Sunday, February 3, 2013

Egoismo, passividade e inconsequência


Na postagem de ontem falei sobre o perigo do 'pensamento mágico' por dar às pessoas uma sensação ilusória de 'proteção' e assim não tomam as devidas providências para se cuidar. Esqueci de mencionar um pensamento ainda mais nefasto que é a atitude fatalista  - "a hora dele(s)/dela(s) havia chegado", pensamento que reforça ainda mais a tendência a não tomar precauções.

Hoje foi bastante gratificante ver que na Zero Hora havia pelo menos quatro publicações que falavam coisas muito parecidas com o que eu havia exposto ontem. Vou colocar os links abaixo, mas como alguns só podem ser acessados por assinantes do jornal, vou postar alguns parágrafos que achei particularmente interessantes e ilustrativos.


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"Ainda sob o impacto da tragédia que matou pelo menos 236 jovens em Santa Maria, especialistas consultados por ZH apontam que falta atitude ao brasileiro. Não sugerem, é óbvio, que cada pessoa se invista em fiscal do vizinho. Mas a passividade pode ser fatal. Abdicar do exercício da cidadania é compactuar com a negligência, o desapego à lei, a corrupção. É estimular a burla dos gananciosos que descumprem normas na busca do lucro fácil, como forrar a boate com uma espuma barata e de baixa qualidade, que expele fumaça venenosa se pegar fogo."
"DaMatta diz que o Brasil contraiu um pacto com o ente apelidado de Sobrenatural de Almeida, segundo o qual “não vai dar nada”, “nada acontecerá de ruim” e pequenas transgressões serão perdoadas. É por isso que se dirige acima do limite de velocidade, não se é cordial nas filas, solta-se sputniks em uma boate superlotada com arquitetura de gaiola. "

Uma sociedade que apenas reage
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"Além da omissão do cidadão e da incapacidade permissiva do Estado, há outro ingrediente preocupante: não se assume as próprias responsabilidades. Segundo o cientista político e sociólogo Emil Sobottka, para o brasileiro, o diabo é sempre o próximo: atribui aos outros posturas negativas que tem, mas jamais admite.

– Experimente chamar a atenção de um motorista que está falando no celular. Ele certamente vai lhe destratar – previne o cientista político."

Pouco se pensa no coletivo
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"No Brasil, é corrente terceirizar toda a culpa na inação dos poderes públicos, mas a origem dos acidentes reside muitas vezes na incúria do cidadão que administra, de alguma forma, situações de risco. O motorista que ultrapassa em local sem visibilidade na estrada, torcendo para que não venha um carro em sentido contrário, está a dois segundos de matar a sua família e a de outros. Não há fatalidade nenhuma aí, como não há azar em um pitbull que dilacera uma criança ou no barraco mantido em área irregular soterrado pela lama na chuvarada. Existe é uma propensão nacional para desdenhar da morte à espreita."
"Por fim, há o individualismo, traço ocidental exacerbado no Brasil, no qual a vontade individual se sobrepõe ao direito coletivo, e que abrange desde o sujeito inconveniente que põe o som a todo o volume, desprezando os vizinhos, até o extremo de quem suborna ou se deixa subornar. No individualismo está também o germe da obtenção da vantagem a qualquer preço que contamina a vida em sociedade e desenvolve a perversa noção de que investir em segurança é um mal desnecessário."

O coquetel fatal não é fatalidade
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"O conjunto de inépcias que emerge da investigação sobre a tragédia de Santa Maria evidencia um dos grandes males do país, que é a burla rotineira de normas legais e recomendações técnicas por pessoas interessadas em auferir vantagens. Ocorre em todos os setores da sociedade, da administração pública à portaria do edifício. É o lado sombra do famoso jeitinho brasileiro, já incorporado à identidade cultural do nosso povo. Às vezes, nos orgulhamos desse artifício que expressa a nossa criatividade, a nossa tolerância, a nossa cordialidade ou a nossa capacidade de improvisar. Mas, em muitas situações, ele nos envergonha, pois é usado como cobertura para a malandragem, para a corrupção e para a ruptura de normas sociais, que invariavelmente causam prejuízos para terceiros."

"O país convive historicamente com a cultura da irresponsabilidade – e, infelizmente, a maioria de nós tem sido conivente com ela. Até costumamos denunciar e cobrar irregularidades de governantes, políticos e agentes públicos, mas nem sempre percebemos que a incúria e a inação espraiam-se pelos estratos mais básicos da sociedade. O lixo fora da lixeira é um indicativo não apenas de que alguém descumpriu uma regra de cidadania, mas também de que a tolerância vai estimular o delito e a impunidade. O carro estacionado em local não permitido indica não apenas que um condutor infringiu a lei, mas também que o agente público descumpriu a sua atribuição de fiscalizar. A expressão “não dá nada”, que se ouve com extrema frequência no cotidiano brasileiro, transformou-se num verdadeiro atestado nacional de permissividade."

O PIOR DO JEITINHO

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