Não achei que isso fosse ser necessário, mas me vejo na contingência de fazer um preâmbulo à minha postagem, a posteriori.
Não sou contra a ação policial no Rio, muito pelo contrário; ela é absolutamente necessaria e pelo que vejo ela está sendo muito bem conduzida.
Vão haver mortes? Provavelmente, e em se tratando de se defender, é plenamente justificado, inclusive por parte dos policiais. Agora, causar mortes é bom? é desejável? É aí que eu discordo dos que ficam torcendo por um extermínio em massa. A força deve ser usada até onde for necessário, nem mais, nem menos.
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Todos nós já tivemos vontade de matar alguém, ou pelo menos de ver alguém morto. É normal, somos pessoas com emoções e impulsos, e ninguém é totalmente racional. E a vasta maioria de nós, eu inclusive, seria capaz de matar alguém que estivesse ameaçando a nossa vida ou a vida de alguém que amamos. Isso é legítimo, auto-defesa ou defesa de terceiros, e justificado pelas circunstâncias.
Mas, quem de nós mataria, ou mandaria matar, fora dessas circunstâncias? Ou então, eu poderia atirar nas costas de um ladrão que invadiu minha casa, mas está fugindo pelo portão?
Tem que traçar um limite para tudo, e algumas vezes esse limite é um tanto indefinido, meio borrado, e principalmente turvado pela raiva que sentimos do fato de termos que conviver com toda essa insegurança.
Aí vem essas notícias da ação policial no Rio, e toda essa raiva e essas emoções vem à tona, e muitos querem ver alguém fazer aquilo que está presente em nossas fantasias.
Só que há uma diferença básica, fundamental, entre o que um indivíduo faz no calor da emoção, ou por necessidade de sobrevivência, e o que o Estado e a polícia fazem.
Se o Estado tiver licença para esse tipo de coisa, você pode ser vítima um dia. Se a tortura, esquadrões de extermínio e a pena de morte fossem atribuições permitidas oficialmente, o Estado se tornaria um perigo para qualquer cidadão. No tempo da ditadura de 64, pessoas que haviam pertencido ao Partido Comunista (mas não só estas) tiveram que fugir do país, pessoas desapareceram, foram presas e torturadas. Em 1977, perguntaram a um professor da faculdade onde eu estudava o que ele achava de um determinado assunto, que não lembro qual era, mas o que me chamou atenção foi a resposta dele: - "Olha, eu não acho nada, porque um amigo meu achou, e depois não acharam mais ele."
O pessoal fala mal dos Direitos Humanos, mas não se dão conta de que foi isso que fez com que a situação melhorasse no país até que a ditadura acabou, em 1984. E também não se dão conta de que um dia poderão estar no lugar errado, na hora errada, e aí vão precisar desse recurso. Sim, os Direitos Humanos servem para proteger você e sua família também, num caso como este.
Que os criminosos sejam presos, que fiquem na prisão por muito tempo se for o caso. Nesse ponto o sistema erra muito, ao deixar soltos, ou soltar muito cedo, quem cometeu crimes graves. Não sou nem um pouco a favor da impunidade ou penas leves para delitos graves. Esse é um problema que precisa ainda ser resolvido.
Quanto à pena de morte, sabe-se que já houve casos de inocentes executados. Você realmente quer dar esse poder ao Estado? Confia no nosso sistema judiciário a esse ponto?
Alguns vão dizer que não importa, que é melhor um inocente ser executado para o "bem de todos". E se esse inocente executado for alguém de sua família? Por mais remota que essa possibilidade possa parecer, estaria disposto a arriscar?
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* Uma observação: quando se trata do aborto, a maioria fala que não, que essa é uma solução precipitada, tem que ter prevenção, educação, etc, etc, mas quando o assunto é sobre a criminalidade, de repente não se pode mais falar em prevenção e educação, aí muda o discurso e querem uma solução "rápida".
Que nome se dá para isso?
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