Thursday, January 26, 2012

Guest post - Carta aberta à ATEA

[por Brega Presley]

Sou, e é melhor deixar isso claro de início, ateu. Também que fique claro, o que será opinado aqui não deve ser visto como uma “demonização” da ATEA. Entendo que basta de maniqueismos e extremismos, e não faria sentido algum a crítica se ela fosse feita usando dos mesmos recursos que se questiona em outros modelos de cosmovisão. A ATEA tem feito coisas interessantes. E tem errado ao mesmo tempo. Não cabe a mim enaltecer os acertos aqui, mas apontar erros que tem passado desapercebidos e que precisam ser levados, no meu entender, a sério.

Então vamos lá:

Tenho observado com enorme preocupação as repetidas tentativas de grupos de ateus atrelarem o ateísmo a figuras publicas e conhecidas. Desde o Sr. Daniel Sottomaior (única voz que parece existir dentro da ATEA para fins de comunicação, o que não corresponde a realidade, mas arrisca-se a moldar uma imagem por demais personalizada da entidade), seja em ações de caracter duvidoso, como a recente imagem de uma atriz Hollywoodiana agindo em prol de crianças na Africa, ou mesmo a realmente ruim escolha de um dia de protestos para o dia do nascimento de Darwin (12 de fevereiro).

É uma tática de popularização do ateismo ruim. Cria um tipo de reverência a personalidades e sua condição ateísta, tornando , no caso da atriz, por exemplo, o fato de ela ser ateia mais relevante do que suas ações. No caso do cientista, como levantado por outras pessoas, o que Darwin fez de relevante não foi ter nascido, mas estudado e publicado “A Origem das Espécies”. Do mesmo modo, quando se defende um “Newtal” (natal no dia do nascimento de Newton, por sinal dia 25 de dezembro), estamos comprando a ideia de um ateísmo pequeno, menor, que precisa se notabilizar ancorado no carisma de algumas pessoas, e não por ideias defendidas, ou mesmo pela simples laicidade garantida por lei, e que não privilegia o ateísmo, mas a tolerância.

Como podemos falar de igualdade quando vemos outdoors tão maniqueístas como os piores apresentadores de programas “espreme e sai sangue”? Se a mensagem é “Crença não define caráter” é paradoxal que exemplos positivos e negativos sejam dados atribuindo a ateus o papel de bons e antagonizando-os com religiosos “malvados”. Melhor seria um ateu sacana ao lado de um religioso sacana, ou um ateu “do bem” ao lado de um equivalente religioso. Isso nos dá uma cara diferente, tolerante, explica o argumento ao invés de se fazer polêmica para gerar um debate de péssima qualidade.

Assim, peço, ou que deixem claro que representam ateus, mas não OS ATEUS em sua totalidade, ou que, no mínimo, tragam maior reflexão a discussão.

Não pertenço a nenhuma associação de ateísmo, e certamente não a ATEA, mas creio que nada custa ouvir outras vozes. Melhor um ateísmo feito por poucas pessoas, porém sensato, do que um com muitas pessoas e que arrisque-se a cometer o mesmo tipo de erros que algumas religiões cometeram no passado. O estado é laico, não ateu. Laicismo significa tolerancia. É possivel, sim, se lutar em prol dos proprios direitos sem nos impormos aos direitos dos demais.

Pensadores-livres são aqueles que, entre outras coisas, podem agir sem as amarras de preconceitos.

Se erros forem cometidos, que sejam novos, e não os mesmos de sempre. Gente para errar como sempre já nos basta no mundo, pois não?

Grato pela sua atenção, e por tomarem providências para fazerem do ateísmo algo maior e melhor, algo que certamente serão capazes se assim desejarem. 
 
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4 comments:

  1. A questão do Estado laico parece recorrente e nenhum comentário parece levar em conta que para tratar com "tolerância" e equidade todas as religiões, o Estado teria que primeiro que definir o que é e o que não é uma religião, minando o próprio afastamento buscado.

    Feriados cristãos, por exemplo, são decorrentes de uma espécie de ditadura da maioria. Uma herança que não deveria se garantir em méritos próprios. Se meus amigos budistas e funcionários públicos quiserem seus próprios feriados, como fazem?

    É meio engraçada essa ideia de tolerância exatamente com o grupo historicamente privilegiado. Soa como oferecer cotas para brancos porque estes estariam "perdendo a vez", oprimidos pelos programas de inclusão social.

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  2. Um "South Park" que acabo de assistir vai ao ponto diretamente:No futuro o gordinho (Cartman?) ficou congelado e o mundo é dominado por tres grandes facções de ateismo: Aliança dos Ateus Aliados, Aliança dos Ateus unidos e outra com alguma variante minima. Eles veneram Dawkins por defender a racionalidade e a guerra entre os grupos ocorre exatamente por cada um se cachar mais racional do quie os outros.
    No final, concluem que o problema são os "ismos".

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  3. Seja como for, agradeço a Asa por repprduzir a carta.
    Sim, sofremos preconceito, e sim precisamos lutar por nossos direitos. Mas há meios de se fazer isso, e certamente palavras de ordem histrionicas em nada resolvem o problema. Ao contrário, fico algumas vezes com a idéia de que era mais fácil ser ateu antes de algumas pessoas passarem a defender meu ateísmo. Agora, não apenas tenho de defender minha postura, mas também explicar a de terceiros.
    Brega

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  4. As estratégias são válidas pois o ateísmo ainda é pequeno e não pode ameaçar as pessoas com inferno... então acho que a estratégia é válida.... e está surtindo algum efeito... mesmo com alguns contras... nada é perfeito.... ainda acredito que a ATEA tenha um grande futuro...

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