A luta das
mulheres
brasileiras
pela legalização
do aborto
nunca foi
sinônimo de
"liberou geral"
mulheres
brasileiras
pela legalização
do aborto
nunca foi
sinônimo de
"liberou geral"
"O Conselho Federal de Medicina, órgão que reúne 400 mil médicos em todo o país e regula a sua atividade profissional, manifestou posição a favor da autonomia das mulheres de interromper a gravidez até o terceiro mês de gestação, ampliando os casos em que o aborto é permitido.
O assunto está sendo debatido no marco de uma reforma do Código Penal, no qual o aborto é criminalizado, excetuados os casos de gravidez resultante de estupro e risco de morte para a gestante. Mais recentemente, foi incluída a permissão para os casos de anencefalia. Trata-se de uma legislação bastante restritiva, que vai na contramão dos países mais avançados, onde a legalização do aborto representou menor mortalidade materna e mais saúde para a população feminina.
É bastante significativa e precisa ser considerada a opinião dos representantes de uma classe de profissionais que convive cotidianamente com as sequelas e mortes de um gigantesco número de mulheres que recorrem ao aborto em condições precárias, justamente devido à ilegalidade.
O fato de a clandestinidade levar as mulheres, particularmente as pobres, a arriscar suas vidas quando se sentem impossibilitadas de levar adiante a gravidez, exige uma imediata reação à visão punitiva. Criminalizar jamais será a solução.
É importante destacar que a luta das mulheres brasileiras pela legalização do aborto nunca foi sinônimo de "liberou geral". Sempre defendemos uma normatização, jamais sua utilização como método contraceptivo, e um amplo programa de planejamento familiar, com métodos e acompanhamento para evitar a gravidez indesejada. Mas sabemos que os métodos podem falhar e nem por isso as mulheres devem pagar com suas vidas.
É uma questão que afeta o mundo, onde 42 milhões de abortos provocados ocorrem anualmente.
A estimativa no Brasil é de 1 milhão por ano; 11% do total de mortes maternas são causadas pela insegurança do procedimento. É a quinta causa de morte. São mulheres jovens, em idade reprodutiva, que muitas vezes deixam na orfandade os outros filhos e a família, destroçada.
A ofensiva se reinicia, com as bancadas dos parlamentares fundamentalistas unindo-se para barrar qualquer avanço. Alvoroçam-se na convocação de atos públicos e é ilusória a possibilidade de dissuadi-las com qualquer argumento. Não há racionalidade possível, nem discussão razoável. Inútil argumentar que o Estado brasileiro é laico e que suas crenças pessoais deveriam restringir-se às suas vidas privadas.
O obscurantismo, as visões medievais, aquelas mesmas que condenaram Galileu e que queimaram mulheres e livros, abrem guerra contra o direito e a autonomia das mulheres sobre seus corpos e suas vidas. Não querem protegê-las, buscam controlá-las.
Os movimentos organizados de mulheres dentro dos partidos têm um papel importante: posicionar-se urgentemente para pressionar e influenciar os parlamentares para que decidam a favor dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
Espero que a opinião pública, esclarecida, se manifeste para que a mudança que já tarda não chegue tarde demais para as mulheres."
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